Martin Brausewetter
Martin Brausewetter nasceu em Viena, Áustria, em 1960. Formou-se, em 1987, na Hochschule für angewandte Kunst (Universidade de Artes Aplicadas de Viena). Hoje, o artista vive e trabalha entre São Paulo e Viena.
O trabalho de Brausewetter funda-se na confrontação de dois elementos essenciais: a técnica por ele adotada e os motivos sugeridos pelas composições de formas abstratas.
No caso da pintura (meio de onde parte toda a poética do artista) e das obras sobre papel, utiliza a têmpera de ovo, técnica que permite ao artista se beneficiar de longos intervalos de tempo, em que vai sobrepondo diversas camadas de cor, as quais são desfeitas à medida que remove partes da superfície com gilete. O azul da prússia, de aspecto aveludado, uma vez que não lhe é aplicado nenhum verniz, cumpre um papel vital na composição das telas, apresentando a dualidade do cheio/vazio e da constituição da matéria.
O contínuo envolvimento do artista com suas telas – que implica, muitas vezes, em revisitar composições terminadas e transformá-las em novas composições – faz parte de uma poética na qual a pintura é processo. O reaproveitamento de materiais é outro dado relevante da poética de Brausewetter, assim como seu trabalho simultâneo com as telas e as obras sobre papel.
As composições sobre papel são elaboradas a partir das superfícies utilizadas para proteger o chão de seu ateliê. As várias camadas de cores que surgem são depois recortadas, rasgadas e recombinadas para criar colagens; ou sofrem interferências com pincel ou lápis. O que inicialmente parece ser obra do acaso submete-se ao seu rigoroso senso de composição, para gerar uma nova ordem.
Há também uma série de trabalhos, em escalas e suportes diferentes, nos quais seus Boliden são os elementos principais. Para o artista, eles representam o fenômeno de implosão cósmica, ou da morte de uma estrela que cria um buraco negro. Bolide – que em alemão pode significar “carro de corrida” – é o termo utilizado pelo artista, de maneira irônica, para designar as formas em contornos pretos ou azuis, originadas de materiais precários e descartados, opondo-se aos materiais sofisticados utilizados em carros de corrida.
As formas presentes na obra de Brausewetter nos sugerem cartografias, oceanos, seres estranhos e fantasiosos. Por outro lado, elas também parecem se aproximar de imagens que resultam da investigação científica de células ou micro-organismos, ficando assim entre o micro e o macrocosmo.
Sua busca é por exprimir a condição transitória das experiências de tempo e espaço que vivemos no mundo contemporâneo. Sua obra diz muito sobre essa instabilidade; na primeira instância, ela emerge da construção de composições de espaços dinâmicos, que aludem às novas teses da astrofísica, da física quântica, da antimatéria e do papel dos buracos negros em nosso sistema interplanetário. E numa segunda, diz respeito à diminuta experiência humana dentro desse universo. O gesto do artista, em seu processo de trabalho, simula essa instabilidade, na contínua ação de fazer e desfazer, colocar e retirar camadas.
Sua obra está presente em diversas coleções particulares, no Brasil e Áustria, além de importantes coleções públicas: Sammlung Vienna Insurance Group (Viena), MA7 Kulturabteilung der Stadt Wien (Acervo Público da Cidade de Viena) e Arthotek des Bundes (Acervo Público do Ministério de Cultura da Áustria, Viena). Em 2010, Brausewetter recebeu o prêmio Kapsch Art Award. Desde 1986, o artista integrou diversas exposições, individuais e coletivas, principalmente no Brasil e na Áustria.