Jaime Prades
Jaime Prades, nascido na Espanha em 1958, vive e trabalha em São Paulo desde 1975. Possui uma trajetória única dentro do panorama da arte contemporânea brasileira e uma obra bastante impactante. Nos anos 80 participou do grupo experimental TUPINÃODÁ fazendo instalações e pinturas nos espaços urbanos.
Suas experimentações plásticas são fruto das suas inquietações com o mundo e a vida e fazem dele uma figura diferenciada. É um artista pleno, no sentido que a sua obra é fruto de uma necessidade vital, acima de questões teóricas e das tendências do mercado.
Ao longo de quase 40 anos de produção ininterrupta, Jaime Prades construiu uma obra que dialoga com as questões sociais, ambientais, espirituais e plásticas, através da pesquisa dos processos específicos da materialização da linguagem e a renovação dos suportes tradicionais.
Sobre seu trabalho:
“As telas de Prades parecem crescer para além do espaço pictórico num movimento manso, cuja geometria sutil, em alguns trabalhos, sugere uma membrana que respira. Ele persegue essa geometria mole como uma resposta feminina àquela geometria rígida, de arestas, “masculina”. Segue uma direção oposta à razão; tem interesse pela linha contínua que quer libertar a subjetividade e redimir o prazer. A espessura das linhas e sua sinuosidade fazem lembrar as marcas de um arado, o objeto que cava para revolver e assim arejar o solo, permitindo que aquilo que está por baixo, dentro, seja exposto à superfície. Da mesma maneira, volta e meia, esses “sulcos” sugerem trançados, remetendo ao mundo do tecer e do fiar, tradicionalmente, como se sabe, associado ao feminino.
Como se pode notar, o trabalho do artista é repleto dessas ambiguidades: um mundo gráfico que habita a pintura, uma pintura que não demonstra discutir a pintura, mas que é elaborada como tal contendo várias camadas materiais absolutamente sutis, uma geometria que diz das sensações e não visa explorar a relação entre os elementos formais.
A pintura pulsante de Prades nos seduz fazendo nossos olhos vagarem suavemente pelas suas formas, e, como com o canto das sereias – e seus cabelos serpenteados –, devemos nos permitir sermos seduzidos porque não tememos o fundo do mar ao qual certamente seremos levados. Nas palavras de Klee, “Deixe-se tragar por este mar revigorante, por um largo rio ou por encantadores riachos, tais como o da arte gráfica aforística, pluri-ramificada””.
Ana Avelar
curadora, crítica de arte e historiadora
“(...) Jaime Prades não se considera grafiteiro nem artista de rua; sua ação como artista é muito mais abrangente. Contudo, a força de seus grandes murais, pintados sobre concreto em espaços de grande visibilidade urbana, revelou Jaime Prades para o grande público. ‘As Máquinas’, imenso mural que ocupou durante anos uma das paredes do túnel da Avenida Paulista, causaram tamanho impacto que prevaleceram sobre outros trabalhos; consequentemente, Jaime Prades ficou reconhecido como artista de rua, vinculado ao mundo do grafite.”
Fábio Magalhães, curador e crítico de arte.Texto extraído do livro ‘A arte de Jaime Prades’, Editora Olhares, 2009.
“(...) Jaime Prades é um outsider. Ele não faz parte de nenhuma gang, clube, escola, associação. Quando muito, fez parte por algum tempo do Tupinãodá, mas como um bom espanhol anarquista, ele seccionou. Uma espécie de lobo solitário. Por isso mesmo, ele tem toda liberdade para criar, palavras de seu colega que escreve esta apresentação. Quando você tira sua pessoa, seu ego do caminho e deixa a pintura se manifestar através de você, o universo começa a dançar com esta sinfonia de sincronicidades.”
José Roberto Aguilar, artista. Texto destacado da apresentação para a instalação ‘Radiantes’ de 1996 em São Paulo.