A Trapézio usa cookies para personalizar a comunicação e melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Bate-papo com Silvia Ruiz


De onde você é e onde vive atualmente? 
Sou de São Paulo e, nesse momento, também vivo em São Paulo. Mas, já morei fora algum tempo; na Inglaterra, em Londres, e na Espanha, em várias cidades.
Além de estar perto da família e amigos, gosto de viver em São Paulo porque a cidade não para - pelo menos até a quarentena. É uma cidade que tem tudo, praticamente 24h por dia: restaurantes, espaços culturais, etc.; temos um vasto acervo de coisas para fazer e lugares para frequentar. Todos os dias há eventos e atividades para serem realizadas na cidade. 
Como e quando as artes plásticas entraram na sua vida?
Acredito que tenha sido em 1992; eu era adolescente, tinha 14 anos e minha me matriculou num curso de pintura a óleo, que eu frequentava aos sábados de manhã, das 9h às 12h. Minha professora se chamava Alcina Michelani; era uma professora altamente acadêmica. Nesse período, realmente aprendi a pintar a óleo, sempre com referência de outros pintores. Pintava muita natureza morta, casarios, paisagens... Ela tinha muitos livros nos quais fazíamos pesquisas. Também tínhamos aulas teóricas, de história da arte, estudávamos alguns artistas; especialmente quando queríamos fazer alguma pintura inspirada em algum deles, como uma paisagem do Turner, por exemplo. Mas, no geral, era bem mais prático do que teórico e foi nesse período que se deu meu primeiro contato, que seguiu com a faculdade. 
Qual sua primeira memória de estar criando?
Claro que sempre desenhei, como qualquer criança desenha. Depois, em geral, vamos perdendo esse hábito, criando barreiras, encontrando bloqueios e paramos de desenhar, pintar, nos expressar. Acredito que foi nesse curso que tive uma ideia maior do que era fazer uma obra, porque naquele momento eu já assinava os trabalhos, os emoldurava; a professora organizava pequenas mostras, exposições; não nos tratava como alunos, mas como pequenos artistas. No curso fazíamos estudos de cor, proporção... foi nesse momento que eu estava consciente de que estava criando algo que iria perdurar. 
Teve educação formal em Artes Plásticas? 
Sim, na universidade - cursei Artes Visuais na UNESP, em São Paulo. Foram quatro anos de faculdade; o curso era de licenciatura, mas segui o caminho de produzir e apresentar meu trabalho em mostras, bienais e salões. 
Em geral, meus professores da faculdade eram mais acadêmicos. Fiz um curso curto de aquarela com o Tuneu e workshop de monotipia com a Jacqueline Aronis. Com a gravura tive maior contato na faculdade, com meu professor Norberto Stori. Não fiz muitos cursos com gravadores.
Como você 'escolheu' trabalhar como artista? 
Acredito que desde o terceiro ano da faculdade eu já me via como artista, porque comecei a buscar editais, salões de arte, exposições coletivas...
No último ano da faculdade comecei a trabalhar em uma galeria de arte. Essa galeria era especializada em papel, então tive a oportunidade de conhecer muitos gravadores, artistas que trabalham com papel no Brasil. 
Mas, foi principalmente nos últimos anos que me dediquei mais a minha produção; antes disso, sempre tive outras atuações paralelas à minha arte: permaneci por três anos na produção no Itaú Cultural, depois mais quatro no CCBB, e depois no espaço da Porto Seguro. Desde que saí da Porto, há uns três anos, estou me dedicando mais intensamente ao meu fazer artístico, mas não parei: dou oficinas no SESC, no Centro Cultural do Alumínio; porém, saí das instituições, onde tinha um trabalho fixo. Assim consigo ter mais tempo para produzir. 
Do que você necessita quando está criando? 
Não vou dizer que preciso de silêncio porque isso depende do momento. O que preciso: uma mesa, sem dúvida, e claridade. Acho que isso basta. Como normalmente produzo gravura, tenho muitas etapas no meu processo. Então quando já desenhei minha matriz e estou gravando, posso ouvir uma música ou conversar com outras pessoas. Agora, quando estou entintando ou pensando nos processos de colagem, o momento de criação mesmo, do fazer, e principalmente quando estou esticando tinta e imprimindo, eu não gosto que ninguém fique perto, porque com qualquer desvio eu erro. Na impressão, qualquer borrão da chapa para o papel faz com que eu perca o trabalho; por isso, no momento da impressão gosto de estar sozinha na mesa, com claridade, e fazer esse meu ritual em silêncio. 
 
Nos conte como é um típico dia em seu espaço de trabalho.
Não tenho ateliê. Trabalho em casa, no meu apartamento, que é pequeno. Tenho uma prensa e um quartinho que chamo de "o quartinho da arte". Mas, ele está tão cheio de trabalhos que prefiro produzir na mesa da sala de jantar. Ela também não é tão grande, então quando vou gravar uma chapa enorme, do tamanho de uma porta por exemplo, preciso apoiar alguma coisa embaixo. Trabalhar em casa tem suas vantagens e desvantagens. Você pode parar a qualquer momento, deixar o trabalho no ponto que você parou para continuar depois; mas, dependendo da ocasião não tenho essa chance, tenho que terminar mesmo, preciso liberar a mesa para comer e outras coisas. Mas, acho que é uma liberdade maior de trabalhar em casa, porque você pode parar, descansar... Acho prático trabalhar em casa, não tem o deslocamento. É claro que a minha casa também vai acumulando trabalhos, porque eu produzo muito... 
Nos fale um pouco sobre a importância da espontaneidade x planejamento no seu processo criativo. 
Como meus trabalhos partem da gravura, existe todo um planejamento, uma vez que preciso desenhar a placa e gravá-la. 
Nas séries 'Paisagens' e 'Construindo a paisagem' estou tentando me soltar mais e ser um pouco mais espontânea, uma vez que estou mesclando técnicas, tentando ir além da gravura que está tão presente em mim, no meu trabalho.
Desde que saí da faculdade eu gravo: gravo em madeira, em metal, em cerâmica; sempre deixo essa marca, essa ideia de incisão. Mesmo nas minhas pinturas e também nos processos fotográficos, a ideia de gravação, de gravar algo, está sempre presente. Nessa série acho que estou conseguindo ser mais espontânea, deixando fluir mais; quando começo o trabalho não sei exatamente o que será do resultado final, porque jogo ali a aquarela, depois venho com as placas de linóleo ou de xilo e completo com uma colagem; ou ao contrário, faço a colagem primeiro e depois venho com a xilo... Estou ousando mais nesse processo de criação, me permitindo experimentar. 
Como está sendo produzir em tempos de isolamento? 

Nessas semanas de isolamento produzi bastante; não digo que muito mais do que o habitual, mas eu trabalhei, mesclei algumas séries, revi outras, fiz gravuras novas da série 'Construindo a paisagem', retomei algumas aquarelas com temáticas anteriores. Revisitei um pouco minha mapoteca nesse período; acho que temos que aproveitar esse momento para abrir gavetas, estudar, olhar nossa trajetória, ver o que já fizemos, para onde estamos indo... Acho que ainda sou muito nova nas artes para isso, mas de qualquer forma considero um olhar importante. 
--
Veja as obras da artista AQUI
--

Deixe um comentário


Os comentários devem ser aprovados antes de serem publicados



     

x