Acrílica e óleo sobre tela
30 (A) x 40 (L) cm [cada tela]
2010
Obra única [conjunto de 3 obras]
Assinatura: não há
Código: LilMal_obra18
Conheça mais sobre Lília Malheiros
A geometria sutil de Lília Malheiros
“Lília não tem uma paleta própria, ou seja, se observarmos o conjunto de suas pinturas, dificilmente encontraremos o predomínio de algumas cores. Afora a queda pelas cores terciárias, pouco mais caracteriza o seu uso da cor, embora ela seja uma colorista. (…)
Diferentemente do que Josef Albers propôs no famoso livro de 1963, Interaction of color, em que analisa a influência recíproca das áreas de cor, Lília lida com as cores de maneira a investigar a espacialização reivindicada por elas. Elas não são consideradas isoladamente. Isso seria um recuo em relação a todo tipo de conhecimento contemporâneo, das leis da física às práticas sociais.
A expansão de uma área verde-claro levará à contração de uma área violeta. Ambas as regiões coloridas não visam a um equilíbrio, como no projeto neoplástico de Mondrian. Elas disputam um mesmo espaço. Muitas vezes as cores de suas telas resultam da sobreposição de duas ou mais camadas de cor – o que no jargão da pintura se chama “velatura”.
Esse movimento de aparecimento da cor – diferente de uma identidade dada – fortalece a experiência de instabilidade das cores. Elas não somente lutam para se afirmar no confronto com as demais cores. Simultaneamente, elas têm sua presença dificultada por uma origem impura. Nessa queda de braço entre as cores, por vezes há um relativo equilíbrio. Em outros momentos, algumas áreas sobressaem em excesso ou então a sobreposição de cores não se cumpre plenamente, e suas marcas ficam à mostra. (…)
Um dos aspectos interessantes da pintura de Lília Malheiros está na compreensão das mudanças que se deram na modernidade, embora o delineamento do que seja a sociedade de nossos dias ainda esteja longe de encontrar uma conceituação clara. E isso não apenas nas artes. Todas as ciências humanas também se movem meio às cegas. (…)
Paradoxalmente, essa situação pouco definida em que vivemos não leva as telas coloridas de Lília a uma angústia expressionista. Olhando o conjunto de quinze telas, tenho a impressão de uma circularidade, mais do que de uma tensão. Um trabalho parece remeter ao outro, na busca inútil de um equilíbrio que os pacificasse. (…)
Esta exposição tem a forma de uma espera – como no Deserto dos tártaros, de Dino Buzzati ou em Esperando Godot, de Samuel Beckett. Nos nossos dias, não saber o que esperar é muito mais promissor que a ansiedade por novos Messias.”
Rodrigo Naves
Excerto do texto de Rodrigo Naves, curador da exposição “Geometria sutil”, de Lília Malheiros, em 2017. O tríptico não foi apresentado na exposição, mas faz parte do conjunto das obras mostradas na ocasião.
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